Transamérica

É possível Hollywood - embora o filme tenha sido vendido como "independente" - produzir um filme sobre transsexualismo sem cair nos clichês óbvios e ainda fazer uma crítica ao cinismo conservador da sociedade americana ? Transamérica, do diretor Duncan Tucker, cumpre o que promete: com sutileza, doses de humor em situações delicadas e uma atuação impecável de Felicity Huffman.

Transamérica
E é na atuação de Felicity Huffman, que confere ao seu personagem uma dignidade isenta de drama piegas ou caricatura gay, que está o grande mérito do filme. Atuação que lhe valeu o Globo de Ouro de melhor atriz, e a indicação para o Oscar.

Bree, nascido Stanley, é o transsexual prester a realizar seu grande sonho, a cirurgia para mudança de sexo. Os planos de Bree sofrem mudanças ao ser informada sobre um adolescente chamado Toby, detido por prostituição em New York, e que dizem ser seu filho. Morando em Los Angeles, ela precisa resolver essa questão de seu passado, antes que sua terapeuta autorize a cirurgia. Decidindo ajudá-lo, sem saber da conturbada criação de Toby, Bree disfarça-se de carola com a intenção de reintregá-lo à família, sem contar a verdade. Sem concretizar sua intenção, Bree oferece-lhe carona para Los Angeles, já que Toby quer ser um "astro do cinema". Juntos de carro, os dois começam a longa viagem de conflitos e descobertas.

Essa é outra grande sacada do filme, ao brincar com o prefixo "trans", sugerindo a idéia de transformação, transsexual, e também de trânsito, já que o filme foi produzido como um Road-Movie.

Felicity Huffman
É claro que a relação dos dois é feita de enfrentamentos, e Bree jamais identifica-se como o pai, mas como mãe, mesmo negando tal condição. O que ela procura é tornar-se um igual, sem romper com a sociedade. Reintegrar-se à sua maneira, ser aceita, exigindo respeito, embora sua condição a coloque à margem.

Reintegrar-se à sua maneira...podemos ver isso na cena onde ela hospeda-se junto a outros transsexuais. Totalmente deslocada, sem conseguir encaixar-se naquele ambiente, Bree não pode ser chamada de uma militante, não existe um orgulho gay. Resolver-se consigo mesma é seu objetivo, já que considera-se alguém que habita um corpo estranho. Trejeitos - ou falta de jeito - o caminhar... nunca está à vontade consigo mesma. Não existe qualquer intuito sexual por parte dela, apenas empatia, tudo muito velado e repeitoso. Pode-se ver isso no desfile dos personagens encontrados durante a viagem de Bree e Toby: o índio, cowboy, um hippie, a família com sua mãe perua, pai indiferente... o caldo cínico, moralista e conservador da sociedade americana.




Ao longo da viagem nasce uma empatia entre Bree e Toby. E a operação acaba sendo um detalhe, porque Bree continua à margem. Mesmo assim ela ainda busca reintegrar-se, mas plenamente consciente das dificuldades que ainda terá que enfrentar...


Ficha Técnica:

Título: Transamérica
Direção: Duncan Tucker
Elenco: Felicity Huffman, Kevin Zegers, Fionnula Flanagan, Elizabeth Peña
País: EUA
Ano de Produção: 2005
Duração: 103 min

Nenhum comentário: