Transexuais Como Ícones de Moda

Como a mídia e a moda evoluíram dos anos 70 até o aparecimento de Lea T

James Franco
James Franco
Em tempos de androginia fashion, celebridades andam “conversando” com o outro lado e posando de cross-dressing em publicações de moda.

O ator James Franco, conhecido por interpretar Harry Osborn na trilogia Spider-Man estampou a capa da Candy travestido. A edição da Candy foi dedicada ao que chamou de transversal. O conceito faz alusão à transexualidade, ao travestismo, ao cross-dressing e à androginia.

Marc Jacobs
Marc Jacobs
A revista representa apenas um dos sinais que evidenciam que o ano de 2010 será lembrado como o ano transex. A representação dos artistas é uma forma de apoio e solidariedade. Não significa terem nascido com o sexo errado, mas um gesto que expressa inconformismo diante dos preconceitos.


Outras celebridades como Marc Jacobs, que foi capa da Industrie vestindo sua própria assinatura em roupas feminina e a revelação da Vogue Hommes japonesa, o modelo Jo Calderone que se descobriu ser, na verdade, a Lady Gaga, estão na lista.

Kalup Linzy
Kalup Linzy
A reflexão começou nos anos 70, mas nunca houve um posicionamento tão competente e direcionado como agora. A discussão traz consigo um forte orgulho, inclusive. E os recentes acontecimentos têm demonstrado a relevância do tema em nossos dias e a sua visibilidade.

Consideremos o blog de uma jovem mãe americana que postou a respeito de seu filho de cinco anos de idade que se vestiu como a Daphne de Scooby-Doo para uma festa de halloween, o que levantou uma discussão nacional sobre a fluidez dos gêneros. A história foi parar no Today. O artista performático Kalup Linzy que se tornou conhecido pelos vídeos em que satiriza as novelas televisivas, na maioria de suas performances é uma drag e interpreta as divas novelescas. A própria Oprah Winfrey cujo programa de entrevistas The Oprah Winfrey Show foi diversas vezes premiado com Emmys e tem o posto de programa com maior índice de audiência da história americana trouxe transexuais para o estúdio, o que, certamente, ampliou muito o alcance da discussão.

Livros têm sido publicados a respeito de Direitos dos Transgêneros, a questão é levantada nas universidades americanas e, segundo o professor de ciência política da universidade do Brooklyn e especialista nesse tipo de direito, aos poucos os transexuais têm-se tornado parte comum na cultura popular. Outras literaturas, como o livro "My Princess Boy" que será publicado pela editora Simon & Schuster sobre um garotinho que gosta de usar vestidos cor de rosa, engrossam as estantes bibliográficas sobre a temática.


Tendo buscado inspiração em seu próprio filho de quatro anos, o autor, Cheryl Kilodavis, diz que não se pode ignorar o fato de muitas crianças crescerem confusas pelas suas diferenças. A obra possui uma escrita com menor rigor científico, baseados em situações reais, tornando o tema mais acessível, podendo ser encarado com maior simpatia e naturalidade.

Lea T
Lea T
A iniciativa de fashionistas em posarem travestidos, certamente tem impulsionado a imagem do transexual, mas os avanços reais foram conquistados por modelos transexuais reais, como na figura de Lea T.

A modelo foi fotografada para a campanha inverno da Givenchy num blusão de penas. Quando o anúncio foi lançado, em Maio, houve um frenesi na imprensa, e a agência de Lea recebeu mais de 400 pedidos de entrevista.

Lea T, de 28 anos, é amiga do diretor criativo da Givenchy Riccardo Tisci desde os 17 anos. O "T", inclusive, vem de Tisci, já que ele a adotou extra-oficialmente em sua família. Ela trabalhou na casa de moda em várias posições. Foi idéia de Tisci trazê-la para a campanha. Além desse trabalho, fez um ensaio fotográfico sem roupa para a Vogue Francesa. Modelo que, originalmente era conhecida como Lea Cerezo e antes como Leo, é brasileira e nascida em Minas Gerais e sucesso na Europa.

Sua condição para fotografar para a campanha da Givenchy foi de poder mencionar nas entrevistas sua transexualidade. Era o meio pelo qual buscava passar sua mensagem para outros transexuais de que eles podiam ser o mesmo que outras garotas e garotos. Que eles poderiam ser o que quisessem. Depois da campanha, Lea tornou-se uma modelo editorial popular e em 2011 será convidada ao programa da Oprah em sua temporada final.

Filha de um ex-jogador da seleção, Toninho Cerezo, e de uma religiosa católica, Lea T, que nasceu Leandro Cerezo, enfrentou dificuldades quando tomou a decisão de mudar definitivamente de sexo. Em entrevista, seu pai chegou a declarar que tinha apenas três filhos. Perguntado sobre sua relação com ele, a modelo afirma que eles se amam, que não foi fácil para o genitor aceitar a decisão, mas que a têm enfrentado com amor.

Lea afirma que sofre preconceito diariamente e que apesar das dificuldades com a questão, sabe que se sentirá melhor ao olhar-se no espelho e ver-se como realmente quer e gosta.

A modelo viajou para Milão, ainda pequena, onde trabalha e faz faculdade de veterinária, graças à carreira internacional do pai e mora lá até hoje.

Modelos transexuais têm longa linhagem. A transição é difícil, vivendo suas juventudes com a sensação de estarem no corpo errado. Nesse sentido, a modelagem pode servir como instrumento de aceitação e respeito pelo próprio corpo. Para alguns, no entanto, a felicidade é passageira.

Houve momentos transexuais na moda em quase todas as décadas. Nos anos 60, April Ashley, modelo britânico conhecido por ter sido o primeiro transex a se submeter à cirurgia de redesignação sexual na Inglaterra, foi a nona pessoa no mundo a fazê-lo.

April Ashley
April Ashley
April foi um dos seis filhos sobreviventes de um casal religioso. As crianças sofriam de deficiência de cálcio e tomavam injeções do metal semanalmente. Até os 15 anos não tinha desenvolvido as características sexuais secundárias e após tentar um suicídio, foi enviado ao hospício Ormskirk onde recebeu tratamentos com choques elétricos. Quando ainda vivia como homem, sofreu um estupro através de um companheiro de quarto. Foi gravemente ferido no processo e conta a história em seu livro “A Primeira Dama”. Em 1950, em Paris, trabalhou no teatro como drag Queen num espetáculo de cabaret. Em 1960 foi realizada a cirurgia em Marrocos. Quando volta à Inglaterra, tornou-se modelo de moda de sucesso chegando a posar para a Vogue britânica.

Em 1961, sua transexualidade foi revelada em tablóides britânicos afetando sua carreira e retirando seu nome de um filme que tinha terminado. Teve seu casamento com o capitão Arthur Corbett anulado em 1970. Ele alegou que o modelo havia nascido com o sexo oposto e que não o dissera. Ele, no entanto, sempre soubera de tudo. Apenas em 2005, graças a uma lei de reconhecimento de gênero de 2004, April foi reconhecido como mulher.

Os anos 70 viram surgir Andy Warhol, o pintor e cineasta norte-americano, figura maior do pop-art e sua musa Candy Darling, que inspirou a nomeação da revista Candy. A música "Candy Says" do Velvet Underground, banda pensada e financiada por Andy, e a música "Walk on the Wild Side" de Lou Reed, cantor, guitarrista e compositor americano, considerado o pai da música alternativa e vocalista do Velvet Underground, foram sensação naquele tempo.

Candy Darling and Andy Warhol
Candy Darling and Andy Warhol
Está sendo aguardado o lançamento do documentário "Beautiful Darling" que pretende traçar todo o trajeto, desde a rejeição ao estrelato e, finalmente, morte por leucemia em 1974 de Candy que hoje é reconhecido como pioneiro numa época em que era ilegal em Nova Iorque, para um homem, vestir-se de mulher.


Segundo Katie Grand, estilista e editora da revista de moda alternativa britânica Love, a indústria da moda estaria abraçando os transexuais hoje, como fizera nos anos 60 e 70, a única diferença seria a de que, agora, eles são utilizados na publicidade, em revistas como Vogue e em programas como o de Oprah Winfrey.


A editora, cuja revista em sua última edição deu destaque aos transexuais, promete para a próxima, transexuais em fotos de Patrick Demarchelier. O conceituado fotógrafo francês que desde cedo já atraía a atenção de revistas como Elle e Marie Claire e tendo trabalho com Vogue, e Harper’s Bazaar e sido responsável pelas campanhas internacionais de publicidade de marcas como Christian Dior, Louis Vuitton, Celine e Chanel, para citar apenas algumas, tornou-se o primeiro fotógrafo não britânico oficial da família real inglesa, escolhido pela princesa Diana.


Nos anos 80, o modelo/musa transgênero de Stephen Sprouse foi Teri Toye. O designer de moda americano que, na década, teve sua idéia de misturar a sofisticação uptown com o downtown punk e a sensibilidade pop, chamou a atenção de revistas de moda e varejistas com suas roupas de tecidos caros, de alta qualidade, tingidos e personalizados. Ele mesmo, aliás, grafitava as roupas. Com a colaboração de Marc Jacobs, grafitou bolsas para a Louis Vuitton em 2001. A obra foi chamada de Monogram Grafitti. As peças esgotaram-se instantaneamente. Faleceu em 2004, de câncer nos pulmões aos 50 anos.

Teri Toye
Teri Toye
Um livro sobre a sua carreira, o "The Stephen Sprouse Book" de Roger Padilha e Maurício Padilha foi lançado ano passado. Sua musa, Teri, havia-se mudado para Nova Iorque para estudar moda e, depois de três anos fora da modelagem por ter perdido a maioria de seus contratos devido à participação como Bond Girl no filme "For Your Eyes Only", impressionou na moda transgênero, trabalhando com Karl Lagerfeld e Jean Paul Gaultier.


A It Girl dos anos 90, Connie Fleming, que era conhecida como Connie Girl e era também, transexual, dizia idolatrar Teri Toye e seu estilo. Connie tornou-se sensação na passarela de Thierry Mugler, cujos desfiles mais pareciam espetáculos, com dançarinos, artistas e modelos em cenários extraordinários. Com um corte revolucionário, ele atualizou a silhueta feminina destacando a feminilidade, com formas anatômicas e gráficas que, harmonizando o todo, reestruturavam o corpo da mulher.


Em 1992, a modelo estrelou o vídeo “Too funky” de George Michael com Linda Evangelista e Nadja Auermann. Atualmente ela trabalha como ilustradora fashion. Em entrevista citou modelos que vieram antes dela como Caroline “Tula” Cossey *, uma das modelos transex mais conhecidas no mundo e a primeira a posar para a Playboy e Tracy Africa. Antes delas a própria Candy e Holly Woodlawn, nascida Haroldo Santiago, atriz em filmes como "Trash" (1970) e "Women in Revolt" (1972) trabalharam com moda e adquiriram visibilidade.

Tracy Africa
Tracy Africa
Quanto às revistaobre o estilo de vida transex, a Candy, que surgiu um 2009, tornou-se um sucesso instantâneo no mundo da moda, com uma publicação anual de 1000 cópias ao preço de $55. A segunda edição, com James Franco, esgotou em dois dias.


Luis Venegas, editor e fundador da revista, disse querer lançar uma proposta diferente da atual para revistas GLS que, usualmente, falam sobre os direitos e movimentos gay. “Eu queria algo como a Vogue, pois existem poucos grupos de pessoas para as quais moda, cabelos e maquiagem são mais importantes”, comentou. “Não é uma publicação para um nicho. Com pessoas como Bruce Weber, Terry Richardson e David Armstrong, é algo que todo mundo, especialmente no mundo da moda, gostaria de ver.” Nesta segunda edição, Venegas travestiu-se de Anna Wintour em ensaio fotográfico.


Entre os modelos e os que trabalham na área, existem aqueles que se preocupam que isso seja apenas uma fantasia passageira. O coordenador do programa do Centro Comunitário em Manhattan para Lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros, Ady Bem-Israel, acredita que existem motivos para se orgulhar de pessoas inconformadas com seu sexo e transexuais que obtiveram espaço na mídia. Por outro lado, deve ser uma atenção permanente e não apenas uma celebração momentânea.


Agora, o queridinho do mundo fashion é o sérvio Andrej Pejic que chamou atenção nas semanas de moda masculina de outono-inverno deste ano com seus traços extremamente femininos e sua semelhança com a top Karolina Kurkova. Com apenas 19 anos e rosto andrógino e exótico, ele é o sonho dos bookers e, apesar de não ser transex, fica difícil diferenciá-lo de uma mulher.

Andrej Pejic
Andrej Pejic
Lea T. enxerga a maior visibilidade dos transexuais como o precursor de uma maior iluminação. “Eu espero que tenhamos uma grande revolução e as pessoas mudem suas idéias sobre nós. Este é apenas o começo.”

Igor Beltrão

Fonte: Closet

* Caroline "Tula" Cossey também foi uma Bond Girl e tem sua história contada no Blog: Clique aqui para ver a matéria.
























Um comentário:

Anônimo disse...

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